O cenário econômico para a economia brasileira se apresenta bastante instável e incerto. A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos em novembro foi uma surpresa para a maioria dos analistas e causa muita incerteza do que virá nos próximos anos. Somado a isso, dia 1 de dezembro foram publicados os resultados do PIB do terceiro trimestre brasileiro, que surpreendeu negativamente, uma vez que todos os números apontaram um retrocesso na trajetória de recuperação dos indicadores econômicos que apresentaram sinais de melhora no relatório divulgado para o segundo trimestre do ano.
Sobre a eleição de Trump, ficou evidente e é cada vez mais um consenso de que o discurso protecionista, antiglobalização, direcionado para a classe média trabalhadora norte americana foi determinante para a vitória do candidato. Trump conseguiu atingir de forma certeira os eleitores dos estados da região conhecida como rustbelt (cinturão da ferrugem), tradicionalmente democratas. Essa região já foi conhecida como steelbelt (cinturão do aço) devido à pujança produtiva em sua fase áurea. No entanto, esse polo industrial norte-americano, a partir da década de 1980, entrou em decadência devido à transferência das fábricas para outras regiões do mundo, efeito da globalização econômica. O discurso de Trump prometeu trazer as fábricas e os empregos de volta para os americanos, e assim “tornar a América grande novamente” (“MakeAmericaGreatAgain!” foi o slogan da campanha de Trump).
As políticas populistas prometidas por Donald Trump, em especial os subsídios anunciados, podem ter efeitos negativos no longo prazo (veja mais). Por outro lado, elas também têm efeitos de curto prazo. Políticas fiscais expansionistas alimentam a inflação de curto prazo, e inflação se combate com aumento de taxa de juro, e nos Estados Unidos não será diferente.
Voltando para a economia brasileira, o relatório sobre o PIB do terceiro trimestre mostrou que nossa economia está com mais dificuldade de recuperação do que se imaginava. O PIB industrial que mostrou sinais de recuperação no segundo trimestre, caiu em 1,3%; a formação bruta de capital fixo (investimentos) reduziu em 3,1% em relação ao trimestre anterior; e nem o setor agrícola e a exportações que normalmente seguram a economia brasileira foram suficientes para conter o recuo de 0,8% no PIB. No acumulado do ano, de janeiro a setembro, o recuo já é de 4% e as projeções mais otimistas para 2017 são de um crescimento de 1% da economia. Muitos acreditam que a recuperação econômica no Brasil só ocorrerá se houver queda nos juros, para incentivar os investimentos produtivos privados.
Avaliando esses dois acontecimentos recentes, podemos imaginar um cenário de comércio exterior brasileiro. Nos EUA, caso Trump tenha força para cumprir o que prometeu, tudo indica um aumento de juros no curto prazo. Isso significa atração de capital financeiro para compra de títulos americanos, que certamente terá impacto no Brasil com a saída de dólares da nossa economia se deslocando para aquela. Ao mesmo tempo, há uma expectativa de contração fiscal no Brasil (caso a PEC 55 seja aprovada) e redução de juros para incentivar investimentos privados na economia local, que também terá um efeito de saída de capital financeiro do país. Ou seja, a saída de dólares via aumento de juros da economia americana mais a redução de juros da economia local terá como consequência uma desvalorização do real perante o dólar nos próximos anos.
Desvalorização do real significa que colocaremos produtos mais baratos no mercado internacional e isso, normalmente, tem impacto positivo nas exportações brasileiras, que vem perdendo força desde 2011.
Atualmente, a pauta de exportações brasileira é muito concentrada e vem se concentrando cada vez mais em produtos primários, ou commodities agrícolas e minerais, de aproximadamente 40% em 2011 para mais de 60% em 2015 (clique no botão para visualizar a evolução das exportações brasileiras por tipo de produto). Uma desvalorização cambial pode aumentar a demanda por produtos nacionais, tanto primários quanto de outros segmentos de maior valor agregado, de forma a complementar um possível crescimento do setor metal mecânico norte-americano.
Não obstante, se Trump está realmente disposto a reativar o parque industrial metal-mecânico do seu país, tal medida vai, provavelmente, criar demanda por commodities minerais e por metais, produtos que o Brasil é especialista em produzir e exportar (24% do total das exportações em 2015). Caso isso aconteça, teremos um player grande brigando por esses recursos no mundo. Para se ter uma ideia de números, os dados de 2014 mostram que metais e produtos minerais representaram 20,8% das importações americanas, aproximadamente USD 457 bilhões de dólares (equivalente ao dobro das exportações brasileiras no mesmo ano). Desse montante importado, apenas USD$ 9,6 bilhões se originaram do Brasil.
Acredito que caso esse cenário se concretize, vai haver um estímulo para a comercialização de minerais e metais no mercado internacional. Esse cenário pode ser vantajoso para a economia brasileira ao ser alavancada via demanda externa. Neste sentido, vale destacar as exportações de produtos minerais do estado do Rio de Janeiro para os Estados Unidos. E em relação aos metais, destaca-se novamente as exportações do Rio de Janeiro e as de Minas Gerais.
O futuro ainda é muito incerto. O importante é observar os movimentos de Trump e nos prepararmos para aproveitar as oportunidades que forem criadas, como complementar a cadeia produtiva norte-americana anunciada por Trump com produtos que já exportamos tradicionalmente, somados a outros de maior valor agregado, que podem ser desenvolvidos a partir da nossa complexidade econômica e produtos próximos ao nosso espaço de produtos.
Marcelo Borges é formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco.