Contemporaneamente, vivenciamos a era da globalização, caracterizada pela maior integração política, financeira e comercial entre os países. Iniciada no final da década de 1960 e início da década de 1970, esse processo permitiu que várias economias apresentassem maior crescimento econômico. Maior difusão do conhecimento e compartilhamento de informações foram suportes desse crescimento, e a globalização forneceu maior dinamismo ao capitalismo.
Entre os vários benefícios que a globalização proporcionou, pode-se citar, de acordo com David Harvey, a quase extinção do perigo da fome. É verdade que a fome ainda é um flagelo social visto em algumas nações em desenvolvimento – em especial na África Subsaariana – e mesmo dentro de economias desenvolvidas. Entretanto, com a globalização, surgiu a possibilidade de compensar a queda da produção doméstica de alimentos pela importação de produtos de outras nações. Se uma tempestade acarretou a escassez de determinado alimento, é possível importá-lo de outro país.
Produtos tecnológicos de ponta, como os iPhones da Apple, estão espalhados no globo. É possível visitar diferentes países. As fronteiras nacionais são abertas com a globalização, e a troca de produtos e serviços entre as economias é ampliada. Pelo gráfico abaixo, que retrata a proporção do comércio mundial de bens e serviços com o produto nacional bruto mundial, podemos visualizar como a globalização incrementou o comércio.
Dos anos 1960 até o ano de 2008, o comércio/PIB cresceu significativamente, saindo de 24% em 1960 para 61% em 2008. O comércio mundial mais do que dobrou em menos de 50 anos. Por outro lado, desde 2008 o comércio tem decrescido, conforme é visto pela queda da linha do gráfico. Estaria a globalização regredindo?
Esse é um debate atual. Argumenta-se que a ascensão do protecionismo prejudicará o comércio, afastará as nações e, por conseguinte, colocará um fim na globalização. A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o plebiscito favorável à saída do Reino Unido da União Europeia e o fortalecimento de partidos de extrema direita são indícios dessa tendência.
Devemos nos lembrar, todavia, que o capitalismo já vivenciou outra fase de globalização, entre os anos 1870 e 1914. O comércio, em proporção com o PIB, cresceu de 10% em 1870 para 20% em 1914, segundo Mishkin. Houve uma duplicação das transações de bens e serviços. Não é pouca coisa. Portanto, a atual globalização não é um processo inédito.
Dois pontos merecem ser levantados. O primeiro é que a antiga globalização foi afugentada por práticas protecionistas e por conflitos mundiais, como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que assinalaram o fim do processo. Se o estudo do passado fornece meios para entendermos o presente e prevermos razoavelmente como será o futuro, então a atual onda protecionista merece maior atenção. A segunda questão é que a globalização, ao contrário do senso comum, não é um processo natural, não é um desdobramento automático do capitalismo. A globalização é construída, foi erguida e sustentada por políticas econômicas. Se estamos presenciando um recuo desse processo é porque políticas para atingir tal objetivo estão sendo empreendidas, como é o caso de práticas protecionistas. Já dizia Myrdal, “a história não tem um destino cego”.