Conhecida e estigmatizada por ser dominada pelo sexo masculino, a área das ciências exatas está inserida em um contexto de disparidade salarial entre os sexos. Seria justo que ambos os sexos recebessem salários iguais ou aproximados perante a mesma formação, e não desiguais, certo? Mas será que já avançamos nesse discurso? Por meio das estatísticas do Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET) e do DataViva, é possível analisar alguns grupos ocupacionais por sexo. E, hoje, vamos olhar para os profissionais das ciências exatas.
O gráfico 1 nos mostra que no ano de 2014, em praticamente todas as ocupações, o sexo masculino apresentou o salário médio da categoria superior ao feminino, exceto na ocupação que se refere aos analistas de sistemas computacionais, em que a diferença média salarial é relativamente pequena. Ou seja, em todas as ocupações da área de exatas, os dois gêneros possuem remunerações diferentes. Em destaque, as maiores desigualdades salariais ocorrem entre os engenheiros químicos, os geólogos e geofísicos, os engenheiros de minas, físicos e engenheiros em computação.
Gráfico 1: Salário por Sexo - Grupo 2 - CBO – Profissionais das Ciências Exatas, 2014.
Fonte: PDET/DataViva
A frequência por ocupação (Gráfico 2) exibe que praticamente todas as categorias profissionais das ciências exatas são compostas em maior parte pelo sexo masculino, exceto na arquitetura, com a maioria de mulheres. Esse dado pode justificar os maiores ganhos salariais médios pelo sexo masculino. Por outro lado, vemos que a estigma de que as profissões das ciências exatas são dominadas pelo sexo masculino ainda perdura, principalmente na engenharia mecânica, engenharia de eletroeletrônicos, engenharia civil, engenharia da computação e nos analistas de sistemas computacionais.
Gráfico 2: Frequência por Ocupação - Grupo 2 - CBO - Profissionais das Ciências Exatas, 2014.
Fonte: PDET/DataViva
Esses dados revelam que esse mercado de trabalho é bastante desigual tanto na frequência das ocupações quanto nos salários. Apenas algumas profissões pontuais, como arquitetura, estatística, matemática, química e engenharia ambiental têm refletido uma mudança no padrão dominante masculino. Mas o que tem sido feito para inserir a mulher nesta área?
Como mulher, sei que nós somos influenciadas pelas nossas mães, tias e professoras, desde pequenas. As minhas brincadeiras da infância eram resumidas a brincar de ser mamãe, dona de casa, no máximo professora. Nós não éramos despertadas para brincadeiras mais objetivas, assertivas. Na infância, sempre me vi atuando na profissão da minha mãe: professora. Não que isso seja ruim, de forma alguma, até porque hoje almejo me tornar uma. Minha visão só começou a mudar e a despertar para outras profissões durante o ensino médio. No caso da área de exatas, nessa época, não tive nenhuma professora de química, física ou matemática. Poucas colegas tentaram algum curso na área de exatas. E eu nunca me perguntei porquê, pois aquele ambiente era natural socialmente.
Acredito que as meninas da nova geração estão recebendo mais estímulos, principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e pelo fato das brincadeiras em aparelhos digitais serem acessíveis para ambos os sexos, quebrando assim o paradigma de “espaços que são para homens” e “espaços que são para mulheres”. Inclusive, brinquedos têm sido desenvolvidos para estimular as meninas de todas as idades a se interessarem por ciência, tecnologia, engenharia e matemática, a exemplo da Goldie Blox.
Para as meninas que buscam estudar na área de exatas, e que posteriormente irão compor o mercado de trabalho, vale a pena conferir o site Mulheres na Engenharia. Lá é possível tirar algumas dúvidas e ficar por dentro de novidades, notícias e curiosidades sobre engenheiras e profissionais da área. Outro projeto interessante é o Elas nas Exatas, que tem o objetivo de contribuir para a redução do impacto das desigualdades de gênero nas escolhas profissionais e no acesso à educação superior das estudantes. Foram selecionados dez projetos que serão realizados com alunas de ensino médio de escolas públicas, buscando estimular as meninas a se evolverem com as ciências exatas. Estas são algumas das iniciativas que cada vez mais reconhecem a disparidade cultural na formação de meninas e meninos, e que apontam a necessidade de incentivo à entrada de mulheres em um mercado que também é delas.