Para o crescimento e desenvolvimento de qualquer país, é fundamental que a população possua adequado nível de escolaridade. Entre as vantagens de uma população com alto nível de estudo, pode-se citar que o Estado passa a contar com trabalhadores mais capacitados, que a produção científica tende a crescer, que o nível de debate político se torna mais consciente e que a população é instruída para compreender a evolução do mundo. Na ciência econômica, o termo usado para designar indivíduos escolarizados é capital humano. Desse modo, quanto maior o capital humano, maior é o crescimento e desenvolvimento econômico.
Essa explicação ajuda a entender o porquê da educação possuir proeminência nos debates políticos. Nunca veremos políticos defendendo menor educação para a população. As controvérsias giram em torno de como a educação será fornecida, financiada e estimulada. Não obstante essas complicações, desde 2009 houve um aumento progressivo do número de estudantes matriculados no ensino superior no Brasil, chegando a 7,8 milhões em 2014.
Por esses dados, é possível afirmar que o capital humano do país melhorou? Na verdade, não. Para isso, devemos comparar em proporção. Fazer perguntas do tipo: do total da população, houve aumento proporcional do número de estudantes de ensino superior? A tabela abaixo retrata esse tipo de questão.
Nas primeiras quatro colunas, compara-se a população total, a população em idade ativa, a população economicamente ativa e a população ocupada em proporção com o número de estudantes de ensino superior. Como pode ser observado, em todas essas colunas ocorreu aumento do valor a cada ano. A penúltima coluna mostra a média de anos de estudo para pessoas de 25 anos ou mais, que tem aumentado gradativamente. Por último, a taxa de analfabetismo do país, que tem decrescido ao longo dos anos. Os dados mostram que a população brasileira tem estudado mais e aumentado a escolaridade.
Entretanto, há ressalvas nessas estatísticas. Nossos estudantes frequentam escolas de boa qualidade? Ao terminar o período de ensino, os novos profissionais estão realmente mais aptos? Pode ser que não estejam. A tabela anterior não diz nada a respeito. Não adianta, para o desenvolvimento do país, aumentar o número de estudantes se, ao mesmo tempo, a qualidade do ensino deteriorado. Ambas as variáveis devem melhorar.
O gráfico acima mostra a distribuição de estudantes de ensino superior por tipo de instituição de ensino. Quase 80% dos estudantes estão matriculados em instituições privadas (áreas roxa e azul claro). O risco desse tipo de arranjo é que, como vivemos em uma sociedade capitalista, na qual o lucro é a variável principal e que motiva a realização de empreendimentos, a expansão de instituições de ensino privado não está isenta desse processo. Pode ser que, almejando maior lucro ou receita, essas faculdades prezem pelo maior número possível de alunos, deixando em segundo plano a preocupação com a qualidade. Segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, de 2008 a 2013, as faculdades privadas foram responsáveis por 82% dos cursos de graduação reprovados pelo Ministério da Educação. Esse dado parece confirmar a questão do lucro e qualidade de ensino. Por outro lado, temos como exemplo as universidades dos Estados Unidos, que são conhecidas pela excelência do ensino, sendo a maioria delas privadas.
Diante disso, pode-se questionar se a instituição ser privada ou pública pode afetar a qualidade do ensino. A princípio, parece que não, dada a proeminência do ensino dos norte-americanos. Políticas públicas adequadas e melhor regulação e planejamento da expansão do ensino parecem ser a receita para o sucesso na formação de adequado capital humano para o país.