Informações a respeito dos danos que a crise econômica tem causado sobre o mercado de trabalho foram divulgadas na semana passada pelo Ministério do Trabalho. No total, o país perdeu 1,5 milhão de postos de trabalho formais em 2015. Isso representou a quebra de uma série de 22 anos (1993-2014) na qual a economia apresentou criação de postos de trabalho. Essa trajetória se inverteu no ano passado.
Os setores mais afetados foram a construção civil, a indústria de transformação e o comércio. Em particular, o comércio havia contratado muitos trabalhadores durante os anos de expansão da atividade econômica. Observamos agora um processo de redução das despesas, e o trabalhador é afetado negativamente.
A remuneração média dos trabalhadores formais decresceu em 2,56% em relação ao nível de 2014, atingindo o valor de R$ 2.655,60 por mês. É normal que em crises econômicas o salário sofra quedas, uma vez que as empresas tentam cortar despesas e o poder de barganha dos trabalhadores enfraquece, em face ao grande número de desempregados: inúmeros indivíduos aceitariam um cargo recebendo salário inferior ao do trabalhador ocupante.
Os jovens foram os mais afetados pela perda de postos de trabalho. Do total de 1,5 milhão de cargos de trabalho perdidos, 1,1 milhão eram ocupados por jovens (pessoas entre 18 a 24 anos). Os economistas fornecem diferentes explicações para esse fato, como a qualificação e a experiência profissional – não deixando de mencionar que os custos para demitir os jovens são mais baixos do que para dispensar trabalhadores que estão há mais tempo na empresa.
Os jovens europeus também enfrentam uma situação crítica no tocante ao emprego. Em particular, durante os anos mais profundos da crise da Zona do Euro, em 2012, quando países como a Espanha e Grécia apresentavam uma taxa de desemprego que superava o patamar de 20%, a taxa de desemprego entre os jovens atingia a marca de 50%. A incapacidade de encontrar empregos por parte dos jovens pode representar um custo significativo no futuro. Esses indivíduos enfrentarão maiores dificuldades para entrarem no mercado de trabalho, além de não poderem desenvolver suas habilidades e aprender novas técnicas. Em suma, tendem a se tornar menos produtivos.
É uma característica do capitalismo exibir ciclos econômicos: crescimento econômico em alguns anos e recessão em outros. Há previsões de retomada do crescimento brasileiro para o final deste ano, o que implicaria, com a defasagem de alguns meses, na criação de novos postos de trabalho. Mas essa é uma previsão de prazo mais longo. A deterioração de curto prazo persiste.
CONFIRA
O gráfico apresenta a evolução do emprego no comércio entre os anos de 2002 a 2014. Veja como a atividade econômica expandiu o número de trabalhadores formais: de 4,8 milhões, em 2002, para 9,5 milhões, em 2014.